Por Annally Alves ( Publicado no site da UGF em 23/03/2012)
Aos 80 anos, humorista Chico Anysio morre no Rio de Janeiro
O clima no país é de luto. No início da tarde desta sexta-feira, 23 de março, morreu aos 80 anos Chico Anysio, um dos maiores nomes do humor no Brasil.
O ator estava internado desde o dia 6 de novembro por conta de fortes dores na coluna. Ele chegou a receber alta no dia 11, mas teve que voltar ao hospital Samaritano devido a uma febre alta. Ainda no dia 21 do mesmo mês ele teve nova alta, porém um sangramento no aparelho digestivo o fez voltar para a UTI.
Na última quarta-feira o ator teve que voltar a respirar com ajuda de aparelhos por conta de uma piora nas funções respiratórias e renais. De acordo com os boletins médicos, ele recebia alta dose de medicação para o controle da pressão arterial, além de ser submetido a uma punção torácica esquerda com drenagem de grande quantidade de sangue.
Problemas de saúde
Em 2010 o artista deu entrada no mesmo hospital com falta de ar. Após exames o diagnóstico apontou um tamponamento cardíaco.
Depois de passar 110 dias internados, ele declarou ao jornal o Globo: “sobrevivi a isso tudo porque sou forte, sou nordestino. Não tenho medo de morrer. Só acho uma pena, quando ainda tenho tanta coisa a fazer, para ver, tanto filho para ajudar, tanto neto… Mas, um dia, vou morrer. Não posso lutar contra o inevitável”.
Ao longo de sua carreira, Chico Anysio construiu mais de 210 personagens. Chico foi ator, humorista, compositor, escritor, pintor, radialista, comentarista e diretor e fez mais de 10 mil shows dentro e fora do país.
“Tiro os personagens da vida, do que meus olhos vêem nas calçadas, nos campos de futebol, nos estúdios, nas casas que frequento, nos restaurantes. O mundo é minha inspiração”, dizia Francisco Anysio Paula Filho.
História
Chico Anysio nasceu no dia 31 de abril de 1931 na cidade de Maranguape, no Ceará. Mas por um erro do cartório foi registrado como se tivesse vindo ao mundo em 1929 – coisa impossível já que sua irmã nasceu no dia 1º de julho do mesmo ano – esperto, ele se aproveitou do erro para fazer tudo aquilo que um menino de 16 anos sonha antes de completar a maioridade: frequentar danceterias, assistir filmes proibidos e dirigir antes do tempo. A idade adiantada também causou certos transtornos, como entrar para o exército ainda na adolescência: ele virou reservista quando tinha oficialmente 16 anos, 18 na certidão e 13 na aparência.
Chico nasceu em uma família de confortáveis condições financeiras. Seu pai era dono de uma empresa de ônibus, além de presidente do clube Ceará Sporting. Na cidade era chamado de coronel, até que certo dia a empresa pegou fogo e, como não tinha seguro, a família perdeu tudo.
Pobre da noite para o dia, Chico e os familiares mudaram-se para o Rio de Janeiro com quando ele tinha 8 anos.
Com gênio forte, repetiu o ano duas vezes na escola, fazendo com que sua mãe o matriculasse em um colégio interno. Chico ficou um mês sem aceitar a folga dominical para se ‘vingar’, passando os 30 dias no internato como se dissesse: se minha família não me quer, eu também não a quero.
Ator porque esqueceu o tênis
Quando morava em Fortaleza, Chico queria ser cobrador de ônibus, mas ao mudar para o Rio de Janeiro sonhou em ser jogador de futebol, o que não foi possível porque ele nunca brilhou nos campos, apesar de nunca ser ó último a ser escolhido.
Convidado pelos amigos para um jogo, ele esqueceu o tênis, e ao voltar em casa para buscar o calçado, resolveu acompanhar a irmã que ia à Rádio Guanabara fazer um teste. Ele fez dois testes e passou nos dois: rádio-ator e locutor. “Por isso eu digo que sou ator porque esqueci o tênis”.
O talento do garoto já era notado na escola, ao imitar os colegas de sala, os chatos, os puxa-sacos e os professores, até que foi expulso da sala pelas imitações.
O humor entrou na vida de Chico quando ele se inscreveu no concurso de calouros ‘Papel Carbono’ da Rádio Nacional, para ganhar dinheiro extra. Ele imitava vozes famosas como a de Oscarito, James Mason, Saint Clarie Lopes, ter outras.
Para este número ele escreveu 32 piadas com imitações diferentes. No dia 7 de setembro de 1947, ele se apresentou e ganhou em primeiro lugar, com 399 dos 420 votos. O prêmio foi usado para comprar uma bicicleta para o irmão mais novo.
Chico se mudou para São Paulo, pois não era mais aceitos em concursos do Rio de Janeiro por ganhar todos que participava.
Em São Paulo aconteceu a mesma coisa, mas ele resolveu escrever 3 programas para rádio, e os três foram aceitos. “Em 1949 perdi a chance de ser um Tarcísio Meira. Deixei de ser galã e fui transferido para os programas de humorismo, onde tive o prazer de atuar com monstros como Grande Othelo, Chocolate, Batista Rodrigues, Jane Gipsy, Gontijo Teodoro, Luis Brandão, Dália Garcia, entre outros. E aprendi que não se deve competir quando se trabalha. Os comediantes não dividem, somam”.
E Chico realmente só teve uma carreira de soma com os personagens Alberto Roberto, Professor Raymundo, Bozó, Divino, Lobo Filho, Painho, Popó, Gastão, Brazuca, Nazareno, Nicanor e tantos outros.
Chico Anysio dizia que humor era genérico: “meu primeiro sorriso certamente foi por alguma coisa feita por meu pai – a pessoa mais engraçada que conheci no mundo. Ele não dizia uma frase sem uma piada no meio. Eu me orgulhava dele e posso afirmar que talvez nunca tenha pensado em me tornar um artista – queria ser amado como ele era pelos clientes, operários e amigos. Ele sempre ficava no meio de uma roda, todas as pessoas com olhos fixos nele e, volta e meia, explodindo em estrepitosas gargalhadas. Ele era um humorista e não sabia”.
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