Por Annally Lima ( publicado no site da Universidade Gama Filho em 30/01/12)
Coordenadora dos cursos de pós-graduação da UGF comenta sobre os danos de uma reforma mal planejada e a importância da engenharia na evolução das grandes cidades
Nos noticiários do país, nos últimos dias não houve outro assunto: a queda dos edifícios no centro da cidade do Rio de Janeiro. Até a imprensa internacional deu destaque a tragédia e ainda colocou em xeque a capacidade do Rio de Janeiro para receber a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016.
Até o momento os corpos de algumas vítimas ainda não foram resgatados.
Mas o que fez com que esses prédios viessem abaixo na noite de quarta-feira, 25 de janeiro? Num primeiro momento os indícios apontavam que uma explosão seria a causa do desabamento, mas no dia seguinte a informação foi desmentida pelo prefeito da cidade, Eduardo Paes, que acredita que “provavelmente, houve uma falha estrutural do prédio maior – de 18 andares – que levou ao desabamento dos outros dois prédios menores – de dez e quatro andares”, mas completa que a certeza sobre as reais causas do acidente só serão confirmadas após o laudo da perícia.
De acordo com testemunhas, o 3º e o 9º andar do edifício maior estavam em obras, mas segundo informações do CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) do Rio de Janeiro, nenhuma obra foi registrada no órgão. Já a prefeitura informou que os imóveis estavam em situação regular e tinham o Habite-se, documento emitido pela prefeitura.
Para a professora e coordenadora dos cursos de pós-graduação Lato Sensu da Universidade Gama Filho, Virgínia Célia Costa, os fatores que podem levar uma construção ao desabamento é a “falta de manutenção, já que os prédios antigos devem passar frequentemente por vistorias, e qualquer reforma ou modificação deve ser analisada com critério por peritos que vão verificar a viabilidade técnica da alteração”. Outro fator são as “alterações ou obras no entorno, que também podem afetar a estrutura de uma edificação que foi projetada para uma realidade diferente do que acontece hoje no centro do Rio de Janeiro”.
Ela também enfatiza que “sem a avaliação de um perito não é possível afirmar com certeza o que aconteceu”, mas acredita que neste caso específico, a provável causa “foi a realização de uma obra sem autorização legal e acompanhamento técnico. Em uma reforma não se pode mexer na estrutura do edifício o que compromete a sua integridade e segurança, isso pode ter acontecido no caso em questão”. E no caso das reformas danificarem a estrutura da edificação, o responsável técnico pela execução e a empresa executora devem ser responsabilizados pelos danos causados.
Virgínia ainda completa que “as reformas devem ser estudadas e devem ser planejadas e acompanhadas por um engenheiro ou arquiteto com registro no CREA ou no CAU(Conselho de Arquitetura e Urbanismo)”.
A professora alega que a função da engenharia na evolução de grandes cidades “está presente na história da humanidade desde que o homem resolveu criar abrigos contra as intempéries, transformando o ambiente natural, concebendo espaços e determinando suas funções. A engenharia através de tecnologias, novos processos de construção e novos materiais tem como missão criar novos tempos, diminuindo distâncias, ligando regiões, promovendo o crescimento e o adensamento das cidades, permitindo novos usos e um novo olhar”. Por isso, uma cidade como o Rio de Janeiro, que vai sediar dois grandes eventos mundiais, como a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016, tem que pensar em uma “reestruturação planejada, dando ênfase a questão dos meios de transporte coletivos que é um dos nossos principais problemas. As novas construções devem ser realizadas em áreas pouco adensadas o que permitirá a expansão e valorização de outras áreas da cidade diminuindo o fluxo intenso de pessoas em locais que não comportam esse movimento”.
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